A transição do presencial para o digital: a transformação da atração de talent
Se a COVID-19 revelou alguma coisa no ambiente de trabalho, foi o grande progresso que poderíamos fazer ao adotar novas tecnologias e ambientes digitais para melhorar as nossas comunicações e tornar o nosso dia-a-dia mais eficiente e conciliador. É por isso que é surpreendente, e ao mesmo tempo nem tanto, que, como sempre, as empresas tenham sido apanhadas de surpresa em questões digitais.
Nos tempos anteriores a fevereiro de 2019, teletrabalho, gestão telemática ou trabalho na cloud eram conceitos associados a empresas modernas ou hipster, que pareciam ter necessidade de estar na vanguarda ou ter uma “filosofia Google” no mundo. Quando a realidade da pandemia caiu que nem uma pedra, ficou claro que a digitalização não é algo ‘raro’, mas um aspecto essencial para ajudar o trabalhador do século XXI.
E não dizemos apenas na qualidade modernistas e vanguardistas dos recursos humanos (espaço de autopromoção, é para isso que serve o nosso blog), mas os dados comprovam. De acordo com um relatório do CaixaBank, em 2019, ano da pandemia, apenas 8,3% dos trabalhadores em Espanha recorreram ao teletrabalho a partir do conforto do lar. Um número que contrasta com os 16,2% – mais de três milhões de pessoas – alcançados durante o segundo trimestre de 2020, conforme indicado no seu relatório Red.es.
Nesta mudança sistemática, as áreas de Recursos Humanos têm uma boa parte do mérito, que tiveram de alterar em poucos meses a dinâmica de milhares e milhares de empresas para adaptar eficazmente a dinâmica dos colaboradores a um novo paradigma.
Agora já não é estranho reunir ou participar em eventos através de plataformas de videochamada; assistir a formações on-line ou rever a nossa capacidade de adaptação a um mundo onde o digital é de máxima importância. Uma mudança que, como sempre dissemos, estava destinada a acontecer, mas que foi feita em tempo recorde (como sempre quando surgiu a necessidade).
Gestão de Pessoas no Mundo Digital
Uma das grandes mudanças ocorridas na área de RH, e que vai ao encontro da questão das competências digitais, foi a forma de avaliar talento e analisar as qualidades de qualquer tipo de perfil. Isso traduz-se em algo muito simples, mas revolucionário ao mesmo tempo: tem que se gerir pessoas num novo ambiente. As empresas tiveram que desenvolver soluções eficientes e inovadoras para adaptar os seus processos, por exemplo, de assessment, a novos contextos. O assessment digital é algo sobre o qual falámos várias vezes o ano passado e sobre o qual pode saber mais aqui.
Para a The Key Talent, se algo tem sido uma máxima ao longo dos nossos anos de trabalho, é a digitalização e a aplicação de novas ferramentas na gestão de talento. Antes mesmo da pandemia chegar para mudar tudo. Embora seja verdade que a pandemia nos ajudou a refinar, desenvolver e crescer em múltiplas áreas para nos adaptarmos aos novos cenários e contribuir com a nossa parte para criar um mundo de trabalho melhor.
Assim, reforçámos a nossa formação – tanto internamente em matéria de PRL ou cibersegurança – como junto dos nossos clientes – que precisavam de implementar mudanças rapidamente para não perderem o seu lugar. Além disso, implementámos definitivamente o teletrabalho, uma ferramenta que já tínhamos anteriormente. Mas, acima de tudo, enfatizámos os nossos esforços em entrevistas de seleção e assessment por videochamada, além de trabalharmos nas novas tendências de provas de avaliação 100% online.
Este trabalho, realizado ao longo dos últimos anos, já estava a dar frutos. Porém, neste novo cenário, fomos essenciais na hora de oferecer soluções para um ambiente que agora se digitalizava com convicção e não pela metade. Apesar de tudo, tivémos que trabalhar contra o relógio (é assim que acontece, em geral com as empresas e em particular com os espanhóis, quando deixam tudo para a última hora) para redesenhar algumas das nossas dinâmicas, para reinventá-las, adaptá-las e garantir que pudessem ser realizadas de forma virtual e telemática.
A jornada Digital dos Recursos Humanos
É o caso da nossa dinâmica de grupo conhecida como ‘THE JOURNEY’, uma ferramenta que criámos antes da pandemia e cujo objetivo é observar como um grupo de pessoas interage no desenvolvimento de tarefas. Graças ao formato de escape room feito com realidade aumentada, cria-se uma experiência imersiva que permite analisar todo tipo de qualidades dos candidatos, gerando uma atmosfera mais descontraída e natural.
Nessa dinâmica específica, um game master reúne presencialmente com os participantes em grupos de oito pessoas, no máximo. Na sala onde é realizada a dinamização, são incluídos três tipos de marcadores. Esses marcadores reagirão de uma forma ou de outra com realidade aumentada para ver pistas; um vídeo de contextualização e digitar a solução final de cada ronda. Para poder usar esses marcadores, a única coisa que os participantes precisavam era de um smartphone e instalar uma aplicação, e com isso já podiam participar.
A nova realidade que o COVID-19 nos apresentou obrigou-nos a transformar esta dinâmica numa experiência totalmente digital. Uma alternativa que permitiria que os candidatos o fizessem 100% pelo computador e que continuássemos a analisar as mesmas métricas como se estivéssemos presencialmente. Nesse ponto, o passo mais importante foi a decisão de repensar a tecnologia utilizada, já que a Realidade Aumentada não era uma possibilidade tão válida num ambiente digital.
Assim, mudámos para um formato de business case interativo que permite aos participantes, via computador, interagir em grupo e por videochamada com um game master. Uma revisão que manteve, apesar das mudanças, pontos de ligação com a dinâmica anterior:
- É composto por quatro rondas;
- Cada ronda tem um vídeo, pistas e a opção de digitar a resposta;
- Os vídeos são os mesmos;
- As respostas são as mesmas;
- Para ambos, recomenda-se entre 6 a 8 pessoas por grupo.
Embora também se tenham introduzido mudanças substanciais:
- O ambiente online tem menos pistas, diminuindo a dificuldade;
- Se com Realidade Aumentada se cria uma dinâmica mais ativa e com maior mobilidade, ao fazê-lo através do ecrã oferece-se um exercício mais linear;
- A última fase foi transformada para que os participantes colaborem até obterem em conjunto a resposta que resolve a dinâmica;
- Com Realidade Aumentada, era necessária uma aplicação no Smartphone com alguns marcadores físicos, no ambiente online é feito através de uma URL e de uma ferramenta de comunicação online.
- Semelhanças e diferenças que oferecem uma série de vantagens e desvantagens dependendo do ambiente em que são realizadas.
A Realidade Aumentada permite uma maior interação com os participantes e entre eles, o que permite dinamizar a avaliação. Além disso, um elemento como a AR é apresentada como uma ferramenta diferenciadora e atrativa que agrega mais valias ao valor da dinâmica.
Por outro lado, envolve um esforço logístico maior, pois os participantes, facilitadores e avaliadores têm que se deslocar e todos devem ter um dispositivo móvel de acordo com as necessidades da tecnologia utilizada.
Algo que o ambiente online salvaguarda, pois evita viagens e, sobretudo, contato pessoal em momentos mais complicados. Além disso, permite avaliar competências digitais durante a dinâmica.
No entanto, essa interação, que é facilmente alcançada pessoalmente, custa mais quando estamos atrás do ecrã de um computador. Além disso, pressupõe uma dificuldade maior por depender da boa ligação de internet em todos os computadores para realizar a dinâmica normalmente.
Prós e contras que mostram nada mais do que a necessidade de adotar novas ferramentas e tecnologias para avaliar, ensinar e gerir perfis e talento.
A pandemia acelerou o tempo e obrigou-nos a fazer mudanças em poucos meses que, em condições normais, levariam anos. Hoje continuamos a fazer uma pergunta: estamos realmente preparados para a transformação digital? Já discutimos esta questão em mais do que uma ocasião -Digital Readinness (25 de junho de 2020)- e concluímos que, embora o caminho seja longo, estamos na direção certa.