A magia de trabalhar com jovens talentos
Muitas das empresas cujo modelo de negócios é baseado na criatividade ou inovação são forçadas a contar com talentos cada vez mais jovens. Poderíamos escrever cem parágrafos sobre as capacidades dos nativos digitais, mas não é o assunto deste post. Queremos falar de ativos muito mais intangíveis para qualquer empresa: a criatividade, a perspetiva e o entusiasmo.
Não deixando de ser uma visão tendenciosa, existem ainda muitos profissionais relutantes em trabalhar com as gerações mais jovens. É fácil generalizar sobre a falta de motivação, disciplina e experiência. Tendências estas que, em princípio, não são exclusivas dos mais jovens e que nos profissionais com mais experiência e senioridade tendem a ser mais ignorados ou se tornam desculpáveis. Retirar o máximo partido de uma jovem equipa requer uma abordagem diferente das técnicas tradicionais de gestão utilizadas ou, como gostamos de chamar agora, a experiência do colaborador. A única coisa que não se pode argumentar é que existem vantagens competitivas difíceis de igualar e uma das mais preciosas é unir uma equipa de jovens criativos no seio da sua empresa.
O que procuram os jovens talentos mais preparados?
É a pergunta mais repetida nas reuniões com clientes em 2021. Se procurarmos a resposta em pesquisas nesse mercado, o resultado costuma ser dececionante. Não é segredo que os jovens gostam de pizza, jogos e uma bebida nas tardes de sexta-feira. É a opção mais barata em termos de experiência do colaborador. Embora seja inegável que as empresas que promoveram esta cultura de adicionar alguma diversão ao dia a dia, obtiveram um certo ganho de imagem, realidade é que devemos aprofundar o conhecimento deste tipo de talento e, acima de tudo, gerar um modelo de conexão que – aí meu Deus – não se baseie exclusivamente no presencial. Aqui estão algumas ideias rápidas:
– Alguns valores com os quais se podem identificar: já falamos anteriormente a este respeito; trabalhar para uma empresa que tem um propósito claro é atraente para as novas gerações. Uma empresa que partilha os mesmos valores que estes, ajudará a que se sintam mais conectados à marca para a qual trabalham a um outro nível. Isso ajudará a estabelecer uma cultura na qual as pessoas estão alinhadas em torno de pensamentos semelhantes e que desejam e se preocupam com as mesmas coisas. Os jovens (e os não tão jovens) querem sentir que pertencem a uma empresa que valoriza o trabalho que realizam e tudo o que podem contribuir. Portanto, as empresas que têm um conjunto de valores, uma missão, uma meta e um objetivo estabelecido e, mais importante ainda, que a comuniquem de forma consistente tendem a ter mais sucesso em atrair talento jovem, que mais tarde irá sentir que faz parte de algo muito maior do que uma marca de uma porta.
– Oportunidades de desenvolvimento: os jovens têm ambições e objetivos diferentes das gerações que os precedem. Ao procurar um emprego, a maioria dos jovens não procura um emprego para a vida toda. Procuram um emprego que lhes proporcione experiência diversificada na sua área de interesse. São motivados pelo desenvolvimento de um conjunto de capacidades que possam ser transferidas para uma função mais especializada ou para uma função diferente caso decidam que a anteriormente escolhida não é para eles. Os jovens preocupam-se menos com o futuro da empresa para a qual trabalham e mais com o seu próprio futuro. Isto não é algo com que nos devamos surpreender, depois de termos assistido durante anos a gigantescos desfiles de recém-licenciados que, com data de validade, iam rodando de empresa em empresa, preenchendo as lacunas que iam surgindo.
– Uma cultura que gira em torno da transparência: a autenticidade significa muito para os jovens colaboradores. A relação entre empresa e colaborador deve ser aberta e honesta. As empresas devem falar com uma voz autêntica e cumprir as suas promessas. Não basta que as marcas afirmem que valorizam a diversidade e a inclusão, para dar o exemplo na atualidade mais dolorosa, as suas palavras devem sere transformadas em ações. Não há maneira mais rápida de desmotivar um jovem do que fazer reivindicações vazias ou sem fundamento dentro da empresa. E isso também nos leva a falar sobre não comunicação. A partir dessa prática de obscurantismo informativo que leva muitas empresas a nunca falarem sobre o que acontece internamente com seus colaboradores. Não importa o quanto sejamos bons em comunicação interna, essa é sempre uma estratégia perdedora que alimenta aglomerados e mensagens de Slack na mesma medida. E, como aprendemos com dez anos a jogar ao telefone estragado, o boato ou a distorção da realidade é sempre pior do que a verdade mais crua.
A receita: três dicas para envolver uma equipa jovem
– Construir um mapa para o futuro: conversar com alguém sobre a sua trajetória profissional mostra que vemos um futuro com ele(a) na empresa. E isso é tão importante quanto o propósito ou os valores. Porque fala do propósito desse talento e do objetivo comum que vamos perseguir ao lado. Portanto, devemos mostrar muito interesse pelas trajetórias pessoais dos membros de cada equipa. Isso faz com que os trabalhadores mais jovens saibam que são realmente valorizados dentro de sua organização e não estão apenas a pensar no curto prazo.
Um exercício interessante é convidar membros mais jovens da equipa a pensar sobre os seus objetivos, o que desejam alcançar e que papel desejam ter na sua carreira. É uma atividade que importa e que sustenta conversas abertas e sinceras quer impacta sobre a motivação. Além disso é uma outra forma de expressar o investimento que se quer fazer no futuro deles bem como identificar os passos que deseja que deem enquanto estiverem na sua empresa. Os jovens querem saber que existem oportunidades de crescimento e que as portas não estão fechadas. Nunca devemos esquecer que o crescimento é uma parte crucial do plano de carreira de um jovem.
– Apoio que vai além do profissional: os jovens têm fronteiras pessoais e profissionais mais diluídas. Portanto, oferecer suporte à equipa de forma estritamente profissional não é suficiente para eles. É a diferença mais importante entre um gestor e um mentor: escuta ativa, interesse genuíno e comunicação autêntica. Acima de tudo, neste momento, preocupar-se sobre o seu bem-estar e saúde mental é essencial se quiser liderar uma equipa de jovens talentos. Mostre que se preocupa com algo mais do que o desempenho das pessoas e que também quer promover a dimensão pessoal de cada um.
Como gestor, deve estar dentro das suas rotinas habituais fazer verificações junto das pessoas da sua equipa e não apenas através de um telefonema Teams ou do Zoom com toda a equipa, mas também fazendo abordagens individuais. Muitos jovens têm problemas financeiros, familiares e de saúde que hesitam em comunicar abertamente ou têm receio de transmitir para cima. Certifique-se de que eles sabem que a sua porta está sempre aberta e que, acima de tudo, se preocupa com o seu bem-estar.
– Fomentando uma cultura de feedback: se leu ‘Radical Candor’de Kim Scott, concordará que é uma parte crucial da nossa natureza procurar reconhecimento pelo trabalho realizado. Nesse sentido, embora as recompensas e os incentivos geralmente funcionem bem para motivar os membros da equipa no curto prazo, é muito mais motivador preparar a sua equipa para o sucesso desde o início. Presumir que os jovens têm a mesma experiência equivalente à sua para tomar decisões com as informações na ponta dos dedos e seguir em frente é ingénuo. Os jovens que estão no início da carreira devem ser acompanhados neste processo para entenderem melhor os passos que devem ser dados para alcançarem resultados satisfatórios. O feedback positivo, mas realista, ajuda os membros mais jovens da equipa a sentirem-se ligados aos seus líderes, dando-lhes a segurança de que o seu trabalho é valorizado a todos os níveis pelos seus pares e, principalmente, pelos que estão no topo.
O feedback construtivo ou igualmente importante.Temos que garantir que os membros de qualquer equipa sabem que é normal errar. E que, como disse Wayne Gretzky, falharemos 100% naqueles em que não tentarmos. Punição ou culpa devem ser palavras abolidas em uma equipa jovem e talentosa uma vez que poderá criar um ambiente hostil no qual poderão desenvolver medo da falha e do fracasso. E essa é a profecia auto proclamada de que Gretzky foi falando. Em vez disso, a franqueza radical ajudará a mostrar o que não funcionou bem e o que podem fazer melhor da próxima vez. Sempre de uma perspetiva da construção pessoal e profissional.
O sucesso de qualquer empresa depende da felicidade dos seus colaboradores. Os jovens têm tanto ou mais talento e capacidade do que as gerações anteriores. Criar um ambiente de trabalho com os recursos, valores e oportunidades para crescer adequadamente é a receita para motivar os jovens membros da equipa e ajudá-los a alcançar a sua melhor versão na nossa empresa. Eles são o futuro, por isso mesmo não os tratemos como um acessório só porque ainda não ocupam um lugar fundamental.